O choro é livre

Sim, o choro é livre, eu vi. As lágrimas estavam nos meus olhos também.

O choro foi livre nos mais de dez velórios em que fiz o ofício fúnebre, do ano passado até agora. Alguns foram tão rápidos que tudo não durou quinze minutos. Só restou o gosto amargo do lamento e as lágrimas de dor.

O choro foi livre nas famílias que visitei, levando cestas básicas e mensagem de consolo. Uma delas comia apenas arroz há 2 dias, mas nada tinha para a próxima refeição. Lágrimas de gratidão se misturaram com as de preocupação.

O choro foi livre quando chefes de família perderam o emprego e me ligaram desesperados, sem saber o que fazer. Como iriam pagar o aluguel? Mesmo ao telefone, oramos e choramos.

O choro foi livre para o microempresário que viu o negócio falir, depois de demitir os poucos funcionários que restavam e honrar seus deveres financeiros. Me recordo da fala de um deles, enquanto encharcava a máscara de lágrimas: “Pastor, é o negócio da minha família, mas não dá mais! Tem hora que dá vontade de fazer igual todo mundo. Mas honrarei meus compromissos. Pagarei todo mundo, mesmo que não me reste nada. Honrarei o meu Deus!” Só de lembrar, volto a chorar. 

É verdade, o choro é livre! E ainda bem que ao menos isso podemos fazer. Porque há momentos que só nos resta deixar que as lágrimas expressem a angústia do coração. Mas nesse momento desesperador o próprio Deus “recolhe as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro?” (Sl 58.8) O choro é livre, mas não solitário. Deus colhe, lágrima por lágrima, e conta. E consola.

O pranto sofrido de agora não é por acaso ou apenas para um alívio emocional momentâneo. As lágrimas terrenas nos projetam à eternidade, pois haverá um dia em que elas não mais existirão. O próprio Jesus “lhes enxugará dos olhos toda lágrima. E já não existirá mais morte, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” (Ap 21.4)

O choro é livre porque ainda estamos nas “primeiras coisas”. Ele é a realidade de um mundo caído e uma necessidade do coração ferido. Mas, na eternidade com Cristo, toda lágrima de tristeza dará lugar às de alegria. O choro de agora não será mais livre. Nós, sim, seremos finalmente livres.

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