A Bíblia não é contra o sexo. Muito pelo contrário. Ela o celebra como dádiva de Deus. Em 1Coríntios 7.3-5, Paulo ensina que o sexo entre marido e esposa deve ser praticado com frequência e só interrompido temporariamente, com mútuo acordo, para oração. O problema nunca foi o sexo — mas o uso distorcido dele.
No entanto, algumas práticas geram dúvida e desconforto, mesmo entre casais cristãos. Uma das mais recorrentes é: um homem pode fazer sexo anal com sua esposa? Esta pergunta, feita por jovens, adultos e até mesmo por casais maduros, exige uma resposta honesta e bíblica.
Por isso, vamos explorar o significado da palavra sodomia, seu uso bíblico, suas implicações culturais e, por fim, refletir sobre a legitimidade dessa prática no contexto do casamento cristão.
1. O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE “SODOMIA”?
O termo sodomia (ou sodomita) é usado em algumas traduções (como a Almeida Revista e Atualizada, ARA), fazendo referência a práticas sexuais impuras, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Mas o sexo anal seria uma dessas práticas? Para responder, vamos investigar as ocorrências bíblicas.
No Antigo Testamento, a palavra traduzida por sodomita em Dt 23.18 é “keleb”, que significa literalmente “cão”. Aqui, é usada como metáfora para impureza sexual. O contexto é claro: o dinheiro obtido por prostituição — tanto masculina quanto feminina — não deveria ser trazido ao templo. Assim, sodomita refere-se a prostituição cultual e práticas sexuais desviadas. Já em Lv 18.22, a homossexualidade é diretamente condenada.
No Novo Testamento, a palavra usada é arsenokoités, que aparece em 1Co 6.9 e 1Tm 1.10. Significa “homem que se deita com outro homem”. Paulo parece distinguir entre o passivo (malakoi, “efeminado”) e o ativo (arsenokoités, “sodomita”). Ambas as práticas são condenadas.
Isso significa que a Sodomia, nas Escrituras, é uma referência direta à prática sexual entre pessoas do mesmo sexo, não fazendo referência direta à sexualidade heterossexual.
2. GÊNESIS 19 E A CULTURA DE SODOMA
A ligação entre sodomia e sexo anal vem do episódio de Sodoma e Gomorra (Gn 19). Os homens da cidade queriam “abusar” dos anjos hospedados na casa de Ló. O texto hebraico usa o verbo yada (“conhecer”), muitas vezes empregado para descrever relações sexuais (cf. Gn 4.1).
Embora o termo sodomia não apareça ali, o episódio serviu de base histórica e simbólica para a condenação da homossexualidade — especialmente agressiva e promíscua — nas gerações posteriores. Por isso algumas traduções mais antigas usam a palavra sodomia como sendo um equivalente à homossexualidade.
3. SEXO ANAL ENTRE MARIDO E ESPOSA?
Embora o texto bíblico não trate diretamente do sexo anal no casamento, há duas posturas principais entre cristãos:
a. Contrária à prática:
- O argumento é que sexo anal contradiz a natureza e a finalidade dos órgãos sexuais.
- Trazer ao leito conjugal uma prática associada ao pecado é inapropriado.
- Levanta preocupações com higiene, saúde e dignidade conjugal.
O problema da primeira posição, quando ela fala do uso do ânus fora da sua função criada, é que a boca também não foi inicialmente criada para isso. Mas a Bíblia fala positivamente de beijo, por exemplo (Pv 24.26). Alguns vão dizer que “fruto doce ao meu paladar” em Ct 2.3 é uma referência figurada ao sexo oral, o que parece ser coerente com o contexto da poesia e o tipo de linguagem do livro. Os seios também têm função de amamentar (Jó 3.12), mas também são acariciados como zona erógena (Ct 5.19).
b. Permissiva com consentimento:
- Baseia-se em 1Coríntios 7.4: o corpo de um pertence ao outro.
- Desde que não haja violência, degradação ou imposição, e ambos concordem, seria permitido.
O problema da segunda posição é que ela deixa aberto para que seja feito qualquer tipo de coisa, desde que se esteja dentro do matrimônio. Dentro da área da sexualidade há várias práticas perversas e degradantes que, mesmo que seja de consentimento mútuo, são expressão de falta de cuidado e amor com o cônjuge.
Assim, mesmo que a Bíblia não condene explicitamente o sexo anal entre casais, a prudência, o amor e o respeito indicam que essa prática deve ser adotada com cautela. Especialmente se ela causa dor, constrangimento ou compromete o vínculo conjugal.
4. CONSELHOS PASTORAIS SOBRE SEXO ANAL
Assuntos sexuais são delicados, não por se tratar de tabus. Mas, principalmente, porque envolvem expectativas e desejos pessoais que se expressam na intimidade do casal. Também podem envolver pecado. Por isso, transmito alguns conselhos finais para se pensar a respeito do tema.
Amor e respeito acima do prazer
Efésios 5.33 nos lembra: o marido deve amar, a esposa deve respeitar. O egoísmo é o maior sabotador da intimidade. O sexo cristão é entrega, não imposição. Quem quer satisfazer na hora do sexo, a si mesmo ou o seu cônjuge?
Honre o corpo do outro
1Tessalonicenses 4.4-7 diz que devemos “possuir o próprio corpo em santificação e honra”. Isso inclui respeitar os limites físicos e emocionais do cônjuge. Essa prática desonrará a pessoa? Ela se sentirá bem?
Proteja a consciência do outro
Romanos 14.23 afirma: “tudo que não provém de fé é pecado”. Forçar alguém a ultrapassar seus limites fere a consciência. Sexo sem paz é sexo sem bênção.
CONCLUSÃO: TENHA UMA VIDA SEXUAL PLENA
Deus não é um ladrão de prazeres. Ele é o Criador deles. A Bíblia não é um manual de restrições, mas um convite à plenitude. Em Cristo, até nossa sexualidade é redimida.
Por isso, o sexo deve ser santo, seguro e satisfatório. Deve refletir o amor de Deus — que se entrega, que respeita, que honra e que edifica. Por isso, termino com breves recomendações Bíblicas para uma vida sexual mais satisfatória.
Para os homens:
- Elogie com frequência e sinceridade (Ct 4.1-10; Pv 18.21).
- Use um tom de voz doce e firme. Isso acalma e atrai (1Pe 3.7; Ct 5.16).
- Seja romântico, não apenas sexual. Flores e palavras tocam mais que o toque (Ct 2.2-3).
Para as mulheres:
- Permita-se tomar a iniciativa com confiança e ternura (Ct 7.11-13).
- Libere-se das culpas antigas e abrace sua sexualidade como dádiva divina (Ct 1.7; Pv 31.28).
- Cuide de si mesma com dignidade, perfume e beleza — não para seduzir o mundo, mas para encantar seu marido (Ct 1.3; Ct 4.10).
Para o casal:
- Invistam em criatividade, perfume, palavras e ambientes (Ct 4.12-16; Pv 5.18-19).
- Conversem sobre limites, desejos e medos. Sexo sem diálogo é só performance.
- Busquem o Senhor juntos. Um coração rendido a Deus é o maior afrodisíaco da alma (Ec 9.9; Hb 13.4).
O sexo é um presente de Deus. Não o banalize com egoísmo, nem o transforme em tabu. Viva-o com alegria, temor e amor. Quando o leito conjugal é santo, o prazer é completo.