Há algum tempo venho refletindo sobre a importância dessa rede social. Ela é uma ferramenta de entretenimento, contato e trabalho. Também possui uma dinâmica própria, frenética, instantânea, divertida e sedutora. Muito sedutora.
Para mim, entretanto, o Instagram chegou ao fim. Pelo menos por um tempo, e eu explico o porquê.
1. Otimizar a agenda
Pouco tempo ainda é algum tempo, e depois de perdido não pode ser recuperado. Nunca. A vida é dádiva de Deus e os dias passam pela escolha de onde investimos o tempo. Então, gerenciá-lo não é apenas importante, mas um imperativo se quisermos viver de maneira que agrade a Deus.
Mesmo com policiamento, gasto mais tempo do que gostaria. Enquanto consumo conteúdo, sou consumido junto com o tempo. O que era para ser cinco minutos de entretenimento, torna-se trinta de procrastinação.
Portanto, a pausa será estratégica, uma vez que possuo metas de estudo, trabalho, projetos pessoais, além de responsabilidades que necessitam de mais atenção do que as redes. Isso deve otimizar a agenda.
2. Substituir hábitos
Deixar a rede é dar o primeiro passo, mas não finaliza a jornada. Um hábito ruim não pode simplesmente ser abandonado; precisa ser substituído. Senão, o mesmo problema se manifestará de outra forma. Alguém que procrastina usando redes sociais pode fazer isso usando um jogo, ou qualquer outra coisa.
Hábitos são importantes porque nascem de práticas constantes e insistentes. Depois de estabelecidos, moldam afeições e influenciam o caráter. Se você pratica algo durante muito tempo, aquilo passa a ser parte de você. Rapidamente enxergará a vida à luz do hábito cultivado.
Por exemplo, alguém cultiva uma alimentação saudável. A prática, depois de um tempo, se torna um hábito. Um “estilo de vida”, como costumamos chamar.
Após o hábito firmado, a maneira que essa pessoa vê a alimentação muda. Se antes comia qualquer coisa indiscriminadamente, agora sua alimentação é mais intencional, passa a ler os rótulos e fazer escolhas conscientes. Ela moldou a sua alimentação e a alimentação agora a molda.
Para qualquer área da vida o ciclo é o mesmo: práticas geram hábitos, hábitos moldam caráter. Uma vez que o caráter já está estabelecido, o inverso acontece: caráter cria hábitos, hábitos geram ações.

Então, ao invés de fazermos resoluções de Ano Novo, deveríamos pensar em quais hábitos tratar. Ao contrário das resoluções, nós realmente nos tornamos nossos hábitos. Não há vidas transformadas sem hábitos mudados. E se quisermos realmente mudar, necessitamos olhar sobriamente que rumo os hábitos estão nos levando. Se a direção for ruim, eles nos levarão à ruína espiritual.
Como saber se o hábito é bom? Basta responder às perguntas: O hábito me faz mais parecido com Jesus? Ele desobedece algum mandamento? Quem eu quero me tornar? O hábito é o caminho até esse alvo pessoal.
Alguns acham legalista essa maneira de pensar. Isso é compreensível, afinal, se tentássemos cultivar hábitos para ganhar o amor de Deus, as práticas realmente seriam legalistas.
Mas o cultivo dos hábitos é uma resposta ao que Deus já fez. É como se estivéssemos tão gratos e fascinados com o amor de Deus que decidíssemos ordenar cada parte da vida de acordo com este amor. A Bíblia chama isso de santificação.
Hábitos antes do amor é legalismo. Mas o amor antes dos hábitos é a lógica da graça. Deus nos ama como somos, mas não nos deixa como estamos.

3. Tratar o coração
No primeiro passo, arranhamos a superfície do problema. No segundo, tratamos os hábitos do problema. Mas isso não é suficiente. É necessário ir mais fundo. Por isso, no terceiro passo lidaremos com a motivação do problema. Ela vem do coração, pois ele é o centro da personalidade, pessoalidade e espiritualidade humana. “Dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23).
É necessário investigar: Por que essa rede é tão importante? Por que gasto mais tempo do que gostaria nela? E por que algumas vezes sinto-me ansioso e pressionado a monitorá-la?
Provavelmente ela tem assumido um lugar que não deveria no meu coração. Talvez o Instagram seja um instrumento de um problema mais sério e profundo, o pecado.
No Instagram recebemos curtidas e elogios, alimentando a sensação valor pessoal e identidade. Ao invés de nos abastecer das afirmações bíblicas sobre quem somos em Cristo, nutrimo-nos dos elogios entorpecentes e, frequentemente, vazios. O caráter “é provado pelos elogios que recebe” (Pv 27.21), e não raramente somos reprovados. Isso é egolatria.
Aqui também acompanhamos pessoas e informações, criando uma sensação subjetiva de comunidade e pertencimento. Se você não está a par do que está acontecendo, sente-se excluído e solitário. Há um termo em inglês para isso: FoMO, Fear of missing out, que significa algo como “medo de ficar de fora”.
“Nem chama”, “Rolê com os melhores” – São frases típicas de quem sofre, em algum grau, de FoMO. A pessoa sente-se ofendida ao ver amigos se divertindo sem ela. Também alimenta a necessidade de estar em todos os eventos. Ainda que não queira ou não possa ir, sente-se pressionada a comparecer.
E, estando presente, faz questão de enfatizar o quanto
sua comunidade de amigos é especial, ainda que sejam
comuns. Alguém assim sempre está conectado, conferindo notificações e ansioso.
O termo foi criado em 1996, pelo americano Dan Herman, para descrever a insegurança sentida quando você acha que está perdendo algum acontecimento muito importante.
Ao invés de sabermos que pertencemos a uma comunidade terrena e espiritual, comprada pelo sangue de Jesus, não pelo nosso esforço, abraçamos a pressão de ter que acompanhar tudo e todos para sermos interessantes o suficiente. Isso é temor de homens.
Também, dentro dessa rede, postamos o que queremos, quando queremos, editando do jeito que julgamos conveniente, gerando uma sensação de controle. Nosso mundo, do nosso jeito, em nossa mão. Ao invés de aprendermos a confiar em Deus e descansar em sua amorosa condução, optamos por nos iludir com a ideia de onipotência virtual. Isso é orgulho.
Esses três exemplos descrevem situações em que o Instagram pode ser instrumento do pecado. Isso não torna a rede má ou boa. Mas evidencia que nós somos maus e a usamos para o mal. Por isso, para mim está chegando ao fim. Ela precisa voltar para o seu devido lugar.
Isso não significa que deva fazer o mesmo. Entretanto, se você se identificou de alguma maneira, talvez seja a hora de interromper o ciclo, deixando práticas, substituindo hábitos e tratando o coração. Esse exercício pode ser dolorido e demorado. Mas, se feito diante de Deus, na dependência do Espírito e sob orientação das Escrituras, certamente será revelador e libertador.

Eu voltarei em breve. No retorno estarei menos preocupado com a velocidade frenética da caminhada e mais atento à direção da jornada. Para isso é necessário reflexão, arrependimento e realinhamento. Assim quero começar 2021.
Que prática precisa pôr um fim em sua vida?