O bem mais precioso

Tenho uma irmã dois anos mais nova do que eu e esta semana ela deu à luz seu segundo filho. Um meninão de choro forte como uma vuvuzela e terno como uma musica feliz, de 49cm e quase 4kg. O bebê nasceu tão pleno e bem resolvido que nem aqueles amassados origâmicos, característicos de crianças recém chegadas ao mundo, teve. Acabou de dar as caras e lá está ele dizendo com seu esboço facial, que julgamos ser um sorriso: “cheguei, família, e passo bem. Obrigado!” (Observe a foto!) A maternidade é algo lindo e extraordinário, assim como a família que minha querida irmã tem. Mas pode ser que essa beleza não seja perceptível a olhos destreinados como os de nossa geração. 

Há dois meses atrás recebi uma visita da Luyane, minha irmã. Na época, com sete meses de gestação, andava com tranquilidade como se não carregasse barriga alguma. A Lulu sempre foi forte e levou uma vida normal durante a gravidez, exceto pelas idas excessivas ao banheiro. O corpo de uma mulher grávida passa por várias transformações quase milagrosas, mas não quebra as leis da física. Dois corpos (ainda) não ocupam o mesmo espaço. O bebê vai crescendo, aumentando suas fronteiras e colonizando parte das terras da bexiga, fazendo a mãe passar alguns vexames em viagens mais longas e lugares públicos. Pergunte para alguma mãe perto de você, provavelmente ela terá alguma história vergonhosa para contar.

Mas nessa visita Luyane abriu seu coração, dizendo que sentia como se “não tivesse feito muita coisa na vida”. Na conversa ficou claro o que ela queria dizer com isso: ainda não tinha graduado-se na faculdade ou obtido o status profissional que gostaria de ter. Senti vontade de abraçá-la, mas ainda não era a hora, não queria interrompe-la. Ouvi tudo com cuidado e sensibilidade, enquanto refletia sobre sua história e vida.

Quando ela terminou de falar, notei ser minha vez. Eu já sabia o que deveria dizer, mas me detive por alguns instantes. Olhei para sua barriga roliça e juro que vi o bebê se mexendo, embora eu tenha atribuído a visão à minha mente. Depois, olhei para sua mão esquerda, adereçada com uma aliança de casamento que deve ter todo o ouro retirado do estado de Minas Gerais desde 1500 d.C. Por fim, olhei em seus olhos cheios de brilho. Para mim, a Lulu ainda tem o mesmo olhar da garotinha que brincou de Pokémon comigo na infância (eu era o treinador, ela era o Pokémon, claro). A mesma que brigou comigo incontáveis vezes, mas que sempre perdoou o fato d’eu ser um péssimo treinador Pokémon, assim como foi graciosa com as minhas insensibilidade juvenis. A mesma que dividia as tarefas domésticas comigo e ia fazer seu “para casa” porque era nerd demais. Essa garotinha cresceu e se tornou uma mulher, mas como mesmo olhar. Ela se casou e, deste matrimônio, teve filhos. Vendo tudo isso meus olhos começaram a nadar na represa que se formou dentro das pálpebras.

Eu, contudo, fortaleci as barragens da represa e disse: “Durante todos esses últimos anos li vários livros, estudei vários temas, escrevi várias páginas e aprendi vários princípios preciosos. Nesse tempo cresci bastante como pessoa, como homem, como cristão. Também trabalhei bastante e Deus, pela sua graça, tudo abençoou. Agora, estou prestes a me formar. Se tudo der certo, no final deste ano pegarei meu diploma; me graduarei. Tudo isso é muito precioso e belo! Mas sabe o que é ainda mais valioso? Uma família maravilhosa como a sua. Entendo que nós temos histórias e vocações diferentes, mas se pudesse trocaria meu diploma e toda suposta ascensão que tive pelo que tem.” Luyane pode não ter diploma universitário ainda, mas sempre trabalhou duro e é graduada na escola da família e casamento. Na escola da maternidade, está na pós-graduação. Na fila dos tesouros, ela passou duas vezes.

O que minha irmã tem é um dos bens mais preciosos do mundo: uma bela família. Ela só não conseguia enxergar o quão agraciada era porque há pressão demais em sua mente, dizendo que o que vale mesmo são outras coisas. Há um pensamento secular que pressiona tanto a mulher quanto o homem a se empenharem na construção de impérios profissionais e acadêmicos em detrimento da edificação de um lar. Veja bem, não estou falando contra ascensão financeira, contra o trabalho ou contra os estudos. Eu mesmo valorizo bastante os estudos. Estou grifando uma visão equivocada de nosso tempo, ainda que tenha muitos adeptos. Critico esta visão pagã que faz as pessoas deixarem de perceber a beleza e riqueza que é ser marido, esposa, ter filhos e criá-los. Família é plano de Deus, é preciosa e é o maior investimento da vida de um homem e de uma mulher. Como G. K. Chesterton disse bem: “A coisa mais extraordinária do mundo é um homem comum, uma mulher comum e seus filhos comuns”.

Depois de dizer tudo isso para minha irmã, chegou o momento do abraço. E das lágrimas. E da cura. Dois meses depois, também chegou o nascimento do Lucas, motivo de alegria para minha irmã, meu cunhado, meus pais (avô e avó babões) e para mim, seu tio chorão.

Refletindo essa ocasião à luz do nascimento do meu sobrinho, concluo algumas coisas:

  1. Filhos, sejam gratos à suas mães. Enquanto elas esperavam vocês foram muito ao banheiro. Há relatos de mães que não chegaram lá a tempo. Mamãe, te amo!
  2. Eu não precisava ter dado tanta bolada na minha irmã enquanto brincava com ela. Mas vá dizer isso para um menino hiperativo de 9 anos de idade!? Para eu ficar quieto provavelmente minha mãe teria que comprar cordas e dizer: “vamos brincar de sequestro? Você é o sequestrado, venha cá para eu te amarrar!”
  3. Apesar de ser tão diferente da minha irmã, os anos se passaram e nossa amizade permaneceu firme e forte. Eu louvo a Deus pela vida dela e pela sua família. Também sou grato a Deus por minha vida, trajetória e a forma graciosa como Ele tem me guardado e guiado por todos esses anos.
  4. É necessário que toda uma geração abra os olhos e priorize o que é bíblico priorizar. É necessário que os nossos padrões de sucesso não sejam segundo os critérios e valores deste mundo, sim, segundo os valores eternos de Deus. O dinheiro é necessário, não principal. Trabalho é meio de sustento, não um fim em si mesmo. Como diz a frase de autor desconhecido: “O dinheiro pode comprar uma casa, mas não o lar.” Então, invista no seu lar!
  5. Para construir nossos impérios pessoais, estamos sós. Eles não passam de ilusão e idolatria! Mas, para edificar uma família temos a presença, a ajuda e a orientação do Senhor Jesus, que também nos faz ser família de Deus através de seu sacrifício redentor na cruz.

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