Jovens e adolescentes: desafio, oportunidade e responsabilidade

“Não os leve tão a sério, são apenas… jovens/adolescentes!”, ouvi algumas vezes. Normalmente a frase vem acompanhada de um sorriso jocoso com uma pitada de insegurança. Há, no senso comum, o conceito de que a adolescência e juventude é uma fase que deve ser apenas suportada, não bem vivida. Não temo dizer que grande parte dos pais, educadores e igrejas ainda não sabem exatamente o que fazer com sua juventude. Quais os desafios desse período? Eles podem ser vencidos? Qual é a nossa responsabilidade? São perguntas que nós, como igreja, precisamos responder.

1. Os desafios: entre tensões e intensidades

Os desafios enfrentados na adolescência e juventude são singulares e caracterizados por tensões. Nesta fase, por exemplo, há certa maturidade intelectual, mas nem sempre psicológica. Isso implica em bom conhecimento sobre vários assuntos, mas pouca sabedoria. Raramente esse conhecimento é útil, pois ainda não aprenderam como usá-lo proveitosamente. Há muitas ideias, mas pouco foco. O conhecimento ainda precisa ser refinado e canalizado corretamente.

Uma segunda tensão existente é entre a condição fisiológica e a situação emocional-espiritual. Adolescentes e jovens, de maneira geral, estão fisicamente prontos para casar e gerar filhos, mas não possuem desenvolvimento emocional e espiritual para lidar com os benefícios e responsabilidades do matrimônio. Nesse aspecto, parte da culpa é nossa e da nossa cultura. Normalmente criamos nossos filhos para permanecer muito tempo em casa, assumir poucas responsabilidades e prolongamos os períodos que antecedem a vida adulta. Como resultado, os corpos são capazes, mas os corações ainda não. 

Por fim, há a tensão entre liberdade e autoridade. Nesse período da vida eles experimentam pela primeira vez a possibilidade de tomarem decisões concretas, mudar o curso de suas vidas, de discordarem do que lhes foi ensinado. É aqui onde os conflitos de gerações, costumes e fé acontecem. Os pais que instruíram seus filhos na fé cristã podem ouvir, com tristeza, seus filhos negarem tudo que lhes foi transmitido, ao aderirem a ideias que receberam da cultura, amigos ou qualquer outro meio. Mas os filhos que experimentam certa liberdade, ainda devem se submeter aos pais pois estão sob sua tutela e sustento. Há uma liberdade subjetiva, mas devemos exigir respeito objetivo. 

Esses três exemplos demonstram que este é um período de grandes movimentações, tanto dentro da alma quanto fora. Ademais, nesse período ainda temos a intensidade característica da descoberta.

Uma criança saudável costuma crescer em sociedade desde pequena. É comum vermos aqueles pequenos e fofos seres humanos brincando em parquinhos com “amiguinhos”. Além disso, há o convívio familiar, a escolinha, a igreja e vários outros ambientes que ajudam a criança a se desenvolver como ser comunitário. Entretanto, apenas no início da adolescência que essa criança, que está passando para a puberdade, começa a ter consciência do seu status de ser na comunidade. É uma fase de descobertas!

Junto com as descobertas vem um caminhão de sentimentos – dos mais felizes ao mais tristes. Como tudo é novo, eles ainda não sabem lidar com esse novo mundo que sempre esteve ali, mas só agora perceberam. Quando sorriem, sorriem até cansar. Quando choram, choram até dormir. Cada dia, uma nova explosão de sentimentos. Parte do que é ser adulto, é aprender a lidar com esses sentimentos diários de forma saudável, consciente e madura – e é exatamente isso que os adolescentes e vários jovens não sabem.

Para que uma criança seja conduzida à vida adulta, precisa passar por experiências, boas e ruins, e aprender a lidar com elas. Ela precisa ser instruída, disciplinada e educada pelos mais velhos. Ela precisa ouvir “sim” e também “não”. Ela precisa, sobretudo, da Palavra de Deus, para aprender a lidar com seu intenso coração. Apenas a Bíblia e o Espírito Santo de Deus podem tratar o mais profundo do ser e fazer com que essa pessoa alcance a sabedoria.

Das tensões às intensidades, o caminho da adolescência e juventude carregam várias armadilhas. Mas também trazem as paisagens mais belas e coloridas que alguém pode ver. As crises desse período, ao invés de serem o fim, podem também ser o começo de uma vida com Deus. A boa notícia é que, embora seja caracterizada por desafios e tensões, também é cheia de oportunidades e a igreja deve estar atenta a elas.

2. Oportunidades: entre crises e chances

A maioria das conversões acontecem entre 12 e 29 anos. A razão é que a mesma tensão que confunde, causa depressão e gera dúvidas, também pode, por fim, gerar certeza e força. O mesmo exercício que fadiga o corpo, fortalece os músculos. Lembremos que Deus usa as tempestades da vida para nos ensinar lições preciosas sobre nós mesmos e sobre quem Ele é. A mesma tempestade que causa desespero, fortalece a fé. Mar calmo nunca fez bom marinheiro.

Se a adolescência e juventude é marcada por intensidades, isso também significa que alguém que decide andar com Deus nesse período, o faz de todo o coração. Embora sejam muitas as seduções, maiores são as forças para lutar. A fase é um prato cheio para que o evangelho seja pregado e o discipulado seja feito. A maioria daqueles que se convertem nesse período, permanecem na fé até fim de suas vidas, ainda que venham eventualmente a se afastar. Por fim, lembram-se do Deus de sua juventude e se dobram novamente ao seu senhorio.

Além disso, uma vez que jovens e adolescentes se desenvolvem na igreja, tornam-se uma importante força motriz. Isso é um privilégio tanto para uma igreja saudável, quanto para eles. Basta reparar nos componentes dos grupos de louvor, equipes de som e imagem, ajudantes na EBD e EBF, nos acampamentos, corais, etc. Ao invés de olharmos para esse período como um problema, deveríamos vê-lo como oportunidade dada por Deus para treiná-los no serviço ao Senhor.

3. responsabilidades: nem suportar ou afastar, sim, acolher

A igreja, diante da constatação dos desafios e visão das oportunidades deve abraçar seus jovens e adolescentes, assumindo sua responsabilidade. Esse dever implica, em primeiro lugar, orar. A oração blinda e guarda o coração facilmente seduzível dos nossos irmãos mais novos. “Quando trabalhamos, nós trabalhamos, quando oramos, Deus trabalha.”, disse Hudson Taylor. Sabemos que apenas o Senhor pode converter os corações e mudar as vidas. Devemos orar porque devemos depender de Deus e nossos jovens e adolescentes precisam desesperadamente do Senhor.

Mas orar nos leva, em segundo lugar, a agir. Charles Spurgeon disse que “sempre que Deus deseja realizar algo, Ele convoca seu povo para orar.” Por isso, além de orar precisamos pregar o evangelho, investir nossas vidas e recursos financeiros nos ministérios de adolescentes e jovens. Nossos joelhos, corações e mãos devem agir simultaneamente. Devemos oferecer ensino bíblico, não apenas entretenimento. Eles devem ser atraídos à igreja por sua diferença do mundo, não semelhança. Precisamos investir na vida deles, ainda que nossas vidas sejam desgastadas para isso.

Não podemos entregar de mãos beijadas nossa juventude nas mãos de satanás, do mundo cheio de mentiras e ilusões ou deixa-los a mercê de si mesmos. Que nosso desejo seja como o do salmista: “Não me desampares, ó Deus, agora que estou velho e de cabelos brancos, até que eu tenha declarado à presente geração a tua força e às gerações vindouras o teu poder.” (Sl 71.18)

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