O Natal poderia ser comemorado qualquer época do ano e sua importância não seria diminuída, pois é a lembrança que o mundo recebeu o próprio Deus entre nós, o Emanuel (Mt 1.23). Esta mensagem é mais importante do que nossos ajuntamentos festivos, boa comida e homens fantasiados de Papai Noel tentando roubar o protagonismo da cena.
Ninguém sabe exatamente quando Jesus nasceu. 25 de dezembro é uma data atribuída, escolhida. Entretanto, embora, não saibamos a data com precisão, sabemos através do evangelho de Lucas.
“Naqueles dias, dispondo-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá, entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel.
Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; então, Isabel ficou possuída do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim. Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor.” (Lc 1.39-45)
Após Maria receber a notícia, da parte de um anjo, de que seria instrumento nas mãos de Deus através do qual nasceria Jesus (Lc 1.26-38), ela se dispôs rapidamente e foi visitar a casa de Zacarias. Ao entrar e fazer uma saudação, Isabel, que estava grávida de João Batista (Lc 1.36, 39, 40, 57-66), através do Espírito Santo soube que o Salvador do mundo estava a caminho. Podemos dizer, então, que exceto Maria, os que estavam naquela casa eram os primeiros a saber do “Natal” – o primeiro da história. Como foram as reações ali? Através das palavras de Isabel podemos mencionar pelo menos quatro.
1. EXALTAÇÃO
“E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre!” (Lc 1.42)
A palavra “bendito” significa abençoado (Gn 12.3; Is 19.25) e está relacionado também ao significado de “feliz” (Jz 5.24; Lc 13.35). Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, movida pelo Espírito Santo, exclamou em alta voz exaltando a Deus, reconhecendo que em sua frente estava uma mulher abençoada e feliz, assim como o que carregava em si. Não que Maria fosse especial, contudo, especial era o fruto do seu ventre e ela mesmo reconhece isto alguns versículos afrente (Lc 1.46-55). Nos acostumamos a comemorar o Natal simplesmente de maneira comercial e, no máximo, congregacional. Não que os presentes e nossa comunhão sejam problemas em si, muito pelo contrário. Mas se fizermos isso sem prestar glória à aquele que é motivo central desta comemoração, esvaziamos de significado tanto a data quanto nosso ajuntamento e presentes. No que fizermos, precisamos glorificar a Deus (1 Co 10.31), ainda mais no Natal.
2. HUMILHAÇÃO
“E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?” (Lc 1.43)
Nesta pergunta exclamativa, Isabel questiona o porquê da visita de Maria a alguém como ela. A Bíblia versão NVI coloca nos seguintes termos: “Mas por que sou tão agraciada[…]?”; já a NTLH: “Quem sou eu para que a mãe do meu Senhor venha me visitar?!” Esta senhora estéril mas que, pelo poder de Deus, iria dar à luz em sua velhice reconhecia que não merecia sequer ser visitada pela mãe daquele que era seu Senhor. Sua exaltação anterior lhe levou à humilhação diante da notícia da encarnação do majestoso e poderoso Deus de Israel. A notícia do Natal deve nos levar à humilhação também, pois o ilimitado se pôs limite (Fp 2.7) e tudo isto por amor a nós, que nada somos. Este mundo não era nem é digno de que o Deus bíblico sujasse seus pés ao andar por ele, entretanto, Ele decidiu fazê-lo. Isso deve nos humilhar pois nenhum Deus na história agiu assim.
Há alguns anos atrás li no livro O Incomparável Cristo, de John Stott, uma história de autor desconhecido que retrata com precisão esta realidade: “Dizem que havia um escultor que esculpiu uma estátua de nosso Senhor. E as pessoas percorriam grandes distancias para vê-lo – Cristo em toda sua força e ternura. Elas contornavam a estátua, tentando captar seu esplendor, observando ora por um ângulo, ora por outro. Ainda assim a grandiosidade dele lhes escapava, até que consultavam o próprio escultor. Invariavelmente ele lhes respondia: ‘Só há um ângulo pelo qual a estátua pode ser vista de verdade. Você precisa ajoelhar-se.’”
3. ALEGRIA
“Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim.” (Lc 1.44)
Isabel, que estava grávida de 6 meses (v. 36), interpreta o movimento da criança dentro de si como um gesto de alegria estimulado pela voz de Maria. O homem pode buscar alegria em qualquer lugar e de várias maneiras, contudo, somente a encontrará em Deus, que o criou. “Na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente”, é o que diz o Sl 16.11. Em Rm 14.17 Paulo argumenta que a alegria proveniente do Espírito Santo é uma das características do Reino de Deus. O famoso compositor de música clássica Johann Sebastian Bach, escreveu uma peça intitulada “Jesus, alegria dos homens” como expressão desta realidade de que a vinda de Jesus a este mundo deve nos encher de alegria, assim como o Natal, que é esta lembrança. Em sua letra, pequena e profunda, diz:
“É Jesus minha alegria meu prazer consolo e paz.
Ele as dores alivia e minh’alma satisfaz.
É Jesus meu sol fulgente, meu tesouro permanente.
Eu por isso o seguirei, e jamais o deixarei.”
A alegria deste homem, segundo sua letra, está na firmeza e constância em seguir a Jesus.
4. FÉ
“Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor.” (Lc 1.45)
Isabel conclui sua fala dizendo uma bem-aventurança que consiste basicamente em fé nas palavras da parte do Senhor. Maria tinha ouvido palavras de um anjo, um mensageiro de Deus, que lhe explicara como seria sua gravidez milagrosa, ainda que não conhecesse homem algum (Lc 1.26-37). Diante destas palavras, ela se entregou completamente, dizendo: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (v. 38). Mas o que é a fé? Resumidamente, fé é (1) confiança em Deus e em Cristo e na sua Palavra (Mt 15.28; Mc 11.22-24; Lc 17.5); (2) Confiança na obra salvadora de Cristo e aceitação dos seus benefícios (Rm 1.16-17); E (3) a doutrina revelada por Deus (Tt 1.4). O próprio Jesus é o verbo (Jo 1.1), a Palavra encarnada do Senhor. Quando comemoramos a lembrança do Natal, devemos reagir sempre com fé que o Senhor Jesus nasceu em cumprimento às promessas de Deus, existentes desde a queda quando Ele disse que enviaria um salvador que pisaria a cabeça da serpente (Gn 3.15). Maria creu e por isso era bem-aventurada! Assim nós seremos também, caso venhamos a crer na palavra revelada de Deus, a Bíblia – onde estão as promessas de Deus para nós hoje.
Jesus pode nascer mil vezes em Belém, mas se não nascer em nosso coração, o Natal não fará sentido. E esse nascimento só acontecerá por meio da fé!
Exaltação que nos leva à humilhação, é o reconhecimento de quem Deus é e de quem nós somos. O Senhor de toda glória se importa com pequeninos como nós; ele se fez pequeninos por nós! E essa é a notícia mais alegre do mundo. Este é o anúncio do evangelho que só pode ser recebido com fé. Você crê? Se, sim, vamos celebrar e reagir adequadamente!
O meu desejo é que o Natal faça sentido todos os dias de nossas vidas, para além da data comemorativa, e que reajamos adequadamente a ele, para a glória de Deus. Feliz Natal!